O rio que seca
O rio São Francisco agoniza na
região do Baixo São Francisco com a diminuição do nível da água, assoreamento,
carga de esgotos, ausência de mata ciliar.
Na cidade de Penedo os bancos de
areia aumentam no leito do rio. No trecho da Rocheira até a prainha, observa-se
o avanço da vegetação nas áreas assoreadas, a diminuição do nível da água e da
profundidade do rio. Outros impactos negativos a vida do Velho Chico são os
esgotos, devido à fragilidade no saneamento básico da cidade, e a ausência da
mata ciliar.
Em Piaçabuçu-AL a salinidade na
água avança, e esse fato já era previsto ha décadas, porém ignorado. Assim como
já era visível há décadas o avanço dos bancos de areia em Penedo e na Foz.
Desde sua nascente na Serra da
Canastra, em Minas Gerais, até chegar a Foz, onde se encontra com as águas do
mar, o rio enfrenta diversos impactos negativos nos cinco Estados por onde
passa. São 2.863 km, quando medido ao longo do trecho geográfico, nessa
trajetória proporciona benefícios para vida, e recebe muitos malefícios.
Um rio que proporciona a vida e
como resposta recebe a morte. Até quando esse rio vai conseguir resistir para
abastecer as cidades e sustentar a irrigação, navegação, a pesca, manter o
turismo, as barragens das usinas hidrelétricas, a transposição, entre outras
obras como o canal do sertão em Alagoas? Até quando?
Apesar do rio está agonizando, a
revitalização não chega para fortalecer o Velho Chico. Porém, a transposição
aconteceu e chega a cerca de R$ 10 bilhões. Transposição que é impactante para
flora, fauna e a população da Bacia Hidrográfica do São Francisco.
Essa transposição saiu do papel,
porque houve vontade política, que ignorou em 2005 os estudos sobre os impactos
ambientais que causariam ao rio, a exemplo, o estudo da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC) e de outros cientistas e pesquisadores. No
entanto, a revitalização está engavetada e as águas do rio vêm diminuindo. Há
trechos do rio em municípios do Baixo São Francisco que secaram.
Ao longo dos anos o nível da água
foi baixando na cidade de Pão de Açúcar-AL, as margens foram aterradas e os
bancos de areia aumentaram. O ex pescador, Jânio Vieira Barreto, 60, lamentou:
“Na minha infância o rio era cheio, hoje onde é a margem e ficam as
embarcações, antes era o meio do rio. E o que contribuiu para diminuição da
água foram as seis barragens das hidrelétricas no leito do rio, que prendem a água para gerar
energia. Então o rio foi secando, diminuiu a pesca, porque muitos peixes desapareceram.
Já não plantamos mais arroz e o que fazemos é trabalhar com as embarcações, e
isso é algo que pode parar, porque os bancos de areia crescem. Com o
enfraquecimento do rio aumenta o sofrimento dos ribeirinhos, principalmente os
que dependem do São Francisco para sobreviver”.
Estamos caminhando para ver o rio
se tornar um fiasco, se a sociedade não trabalhar para recuperação do Velho
Chico. Não adianta dizer que o problema está na chuva que diminui, devido as
mudanças climáticas, mas adianta afirmar que as mudanças climáticas são
decorrentes também das ações antrópicas.
Adianta informar que não investir
em outras fontes de energia que sejam ambientalmente, socialmente e
economicamente sustentáveis torna o rio cada vez mais frágil, principalmente com
a diminuição da vazão para garantir água nas barragens das hidrelétricas.
Adianta dizer que os tributários do
rio São Francisco precisam de revitalização, que o rio está secando e aos
poucos vai morrendo um grande ecossistema. Será que vamos permitir que o rio
São Francisco seja destruído como o Mar de Aral, localizado na
Ásia Central?
Quando a vontade política vai
representar o grito da sociedade e o estudo de pesquisadores que tenham
respeito à vida? Quando a revitalização da Bacia Hidrográfica do São Francisco
vai acontecer de verdade?
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